No mundo antigo surgia a falsa afirmação de que a genealogia
só serve para cultuar um passado morto e reviver vaidades perdidas.
A genealogia tem grande importância em nossos dias, não só
por simpatia pelos ancestrais, ou para descobrir um passado feliz, pela revisão
dos valores morais e das justas precedências hierárquicas.
A genealogia é uma ciência conservadora dos direitos das
famílias e dos soberanos, faz recair sobre os que merecem celebridade, jactos
de glória e esplendor que a posteridade jamais recusa aos príncipes que se
dedicaram aos destinos e felicidade das nações, e transmite freqüentemente de
uma família a outra o poder reinar sobre diferentes povos, e impõe aos
descendentes o respeito, o reconhecimento das virtudes sólidas e atributos que
lhes dá o direito respeitável de serem sobre a terra os representantes da
justiça e do bem público.
A genealogia é importante não só de ordem histórica, mas
também social, biológica e pedagógica. É indispensável aos que querem escrever,
ensinar ou conhecer de uma maneira precisa e verdadeira a história das famílias
e de cada nação. É uma ciência-mãe para os que se entregam ao exercício do
direito público da diplomacia e da política.
Ninguém podia raciocinar sobre os direitos de seu príncipe,
representá-lo nas cortes estrangeiras, servir seus interesses como ministro ou
como homem público, se não conhecesse a fundo a história genealógica de sua
casa e de suas alianças.
A história não pode deter o seu curso. Sendo assim, não se
pode deixar de estudar o passado, que poderá influenciar o futuro e que é um
patrimônio da humanidade, pois a tradição e o que se passa adiante não morre, e
não sabemos o que o futuro nos reserva com toda série de imprevistos e sucessos
espantosos.
Os utilitaristas dão à genealogia valor econômico e social
nas questões de herança ou outras questões menos nobres que as virtudes e
valores dos ancestrais, que devem ser o elo de honra de cada família, paradigma
das gerações e símbolo da grandeza das nações.
Os heróis, os santos, os grandes sábios e artistas,
personalidades que se destacaram na vida pública pela sua dedicação e,
sobretudo, por virtudes de suas altas qualidades morais, sem dúvida tem na
continuidade do sangue uma importância enorme pela influência que o seu exemplo
deve exercer.
A nobreza medieval se distingue perfeitamente da
aristocracia do passado.
A nobreza é uma instituição cristã, porque a nobreza é o
valor moral, é a grandeza a serviço do bem, a força a serviço da verdade, da
justiça, do valor da dedicação do espírito de renúncia, protegendo o fraco,
defendendo o humilde, as viúvas, os órfãos, respeitando a todos. A nobreza
abrange a todos os homens nas suas altas qualidades morais, pois nobreza quer
dizer caráter, virtude.
A aristocracia da antigüidade não se distingue por estes
traços de unificação, eram apenas famílias poderosas. Os patrícios de Roma ou
os arcontes de Atenas tinham a escravidão por base, e desconheciam totalmente a
noção de caridade que caracteriza a nobreza, que é baseada no amor aos seus
semelhantes.
A nobreza é, pois, mais que a decisiva afirmação da família
e dos princípios da vida social cristã.
Há de honrar-nos, portanto, saber as virtudes dos nossos
ancestrais que construíram esta civilização, e que foram esteio dessa ordem
maravilhosa.
Se nossos ancestrais tiveram erros não devemos nos
decepcionar e, para repará-los, as futuras gerações devem empenhar-se em
aumentar o mérito das suas famílias. Se ficam as honras, ficam as faltas que
devem ser reparadas com mais honra. E isto é forte na pedagogia social.
A genealogia, mais que todas as outras ciências, é a ciência
do valor humano da civilização. Não é apenas a ciência biológica materialmente
falando, do valor do sangue, mas sobretudo, do espírito que deve animar e
conduzir esse sangue. É espiritualista no mais alto sentido, porque transfere
às gerações pósteras todo um manancial de ensinamentos e de bom nome, de
justiça e coragem, de disciplina e hierarquia, de honra, correção e lealdade.
A sociedade só é grande quando as famílias tem ordem e
dignidade. E quando uma sociedade é assim superior, a civilização que a envolve
é grandiosa, próspera, magnífica.
Sem dúvida a nobreza é a floração mais preciosa das famílias
cristãs, por tudo quanto nela é elevado e magnânimo. Foi por isso que a
nobreza, sendo a mais diminuta e restrita de todas as classes sociais deu à
igreja o maior número de mártires e santos, a começar por nosso Senhor Jesus
Cristo, Príncipe da casa Real de Davi.
A genealogia é mister dos que honram a sua linhagem, sejam
elas quais forem, embora despeitosamente chamem isto de justa ou injusta
vaidade, o que vem afirmar pouca dignidade e nobreza, porque o nobre é modesto
e afável, sem orgulho e preconceito.
Os genealogistas se baseiam na história como guia para
mostrarmos a utilidade de critérios genealógicos, pela ação do homem dentro do
tempo e do espaço, na política e na sociedade, sendo que destas duas
encontraremos os aspectos pedagógicos e biológicos.
Maria José Antunes.
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