O propósito desse blog, é compartilhar meus pensamentos, citações e principalmente artigos de genealogia, que tem sido por muitos anos um assunto que tenho estudado e adquirido experiência.

Senti o desejo e a necessidade de deixar um pouco desse legado a todos que tiverem interesse. O profeta do velho testamento Malaquias que viu nossos dias, fez a seguinte profecia: "Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais ...". Essa profecia feita cerca de 2.400 anos atrás, podemos constatar hoje nesses últimos dias, o cumprimento dela, quando surge um interesse quase inexplicável na nova geração, em conhecer sua origem, e sua a história.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Das páginas do meu diário


O ônibus entra pela estrada do Imirim, na altura da praça da igreja, o relógio marca nove e meia da manhã, o dia está lindo e claro, o sol muito quente, o suor encharca meus cabelos e escorre para o meu rosto e pescoço, observo as ruas asfaltadas, com bonitas casas bem cuidadas, os terrenos baldios de outrora estão ocupados com lojas, cartórios, padarias e imobiliária. Vejo os pontos de ônibus com aglomeração de pessoas, transeuntes bem vestidos caminham pelas ruas, entram e saem do supermercado próximo ao Largo do Japonês, no lugar do antigo posto de gasolina na esquina da Rua Itaberaba com o Largo do Japonês, ocupa o suntuoso prédio do banco Bradesco. Faróis por todos os lados disciplinam o tráfego intenso. Olho para frente, fico surpresa! Os morros de Itaberaba, Vila Rica e Penteado, totalmente urbanizados,os telhados das casas banhados pela luz do sol. Sinto-me emocionada! Ver Cachoeirinha no presente foi um sonho do passado. Agora já não é só o suor que molha o meu rosto, pois se mistura com as lágrimas que jorram dos meus olhos, devido a forte emoção.Meu pensamento retrocede ao inverno de 1959 e a imagem de duas moças lindas, loiras de olhos azuis e semblante divino surgi no palco de minha mente, Sister Norma Richardson e Sister Gytembi: As duas missionárias que bateram à nossa porta. Fico imaginando aquele momento em que eu disse a elas que nós não poderíamos batizar  por não poder guardar todos os mandamentos de Deus, pois o dízimo seria o maior impecilio, pois a aposentadoria do Pedro dava somente para pagar o aluguel e nada mais. Lembro-me claramente das palavras que Sister Richardson nos respondeu: “Irmãos, não posso dizer para que não paguem o dízimo, pois não tenho o direito de impedir que recebam as bênçãos do Senhor!” Nós lhe respondemos: “Está bem, prometemos guardar todos os mandamentos do Senhor.” Nós nos batizamos no dia 12 de Setembro de 1959. A reunião batismal foi marcada para as 18 horas, a tarde estava extremamente fria e caía garoa, mas a chama de nossa fé aquecia nossos  corações .
            Voltamos para casa com a alma e o corpo lavados e em nosso semblante resplandecia a luz de Cristo! Sentiamos em nossos corações o desejo de começar uma nova vida e perseverar até o fim. O passado de sofrimento e amargura havia sido sepultado nas águas do batismo, senti que estava despontando a aurora de um novo dia.
            Fomos fiéis, guardamos todos os mandamentos de Deus, pagamos com alegria e honestidade o dízimo, fomos imensamente abençoados. No fim de 1959, adquirimos uma casa na Cachoeirinha, foi realmente uma dádiva dos céus, foi o que se pode chamar de milagre, pois foi somente naquele bairro humilde o nosso dinheiro deu para comprar, Apesar de a compra ter sido uma bênção, e nos ter trazido muitas alegrias e gratidão a Deus, nos trouxe grandes desafios. No Jardim Centenário, onde situa a casa, não tinha luz nas ruas e nem água encanada, a água do poço não era potável, saía barrenta e com gosto de ferrugem, chegou até entupir o encanamento. Fizemos uma caixa ao lado da cozinha e depositávamos a água e esperávamos a sujeira decantar, para usar a água, que servia somente para lavar roupa, e limpeza. Solicitamos a prefeitura para colocar uma caixa na rua e nos fornecer água para beber e cozinhar, e assim o problema foi solucionado temporariamente até que chegou a água encanada para aquele bairro. Havia pouquíssimas casas, as ruas não eram asfaltadas, nos dias de chuva, caminhar pela lama era um grande desafio, ônibus tinha somente duas linhas, e quando chovia, dependendo do lugar, costumava atolar, lojas, haviam duas lojinhas, uma padaria, um mercadinho, com pouco suprimento, o que salvava era uma boa feira.
            Um dos maiores desafios que tive que enfrentar era ter que sair de casa todos os dias as quatro horas da manhã para trabalhar no Serviço Social de Menores na Av. Celso Garcia, para sustentar a família, pois o Pedro nesta época, estava impossibilitado de trabalhar. O que foi muito penoso para mim, era deixar os meus filhos no meio daquele proletariado, a maioria assaltantes, marginais e viciados em drogas. Felizmente com as bênçãos e proteção do Senhor, os nossos filhos saíram ilesos da influência  e dos pecados daquela geração iníqua.
            A igreja ficava em Santana, nos dias de chuva, o  ônibus chegava até o bairro do Imirim devido a lama. Nós caminhávamos dois quilômetros para ir e voltar duas vezes por dia, pois as reuniões eram feitas de manhã  e a noite: a escola dominical pela manhã e a sacramental a noite. Caminhávamos no meio da chuva e atolando na lama. Difícil mesmo foi para o Pedro, pois tinha que carregar o Serginho no colo, ele tinha cinco anos e estava muito doente com febre reumática que já havia atingido o coração. Porém a nossa fé, amor pelo evangelho de Jesus Cristo e obediência a Deus, nos dava força e coragem e assim tivemos muitos dias de sacrifício! Dias de chuva e de lama e dias de sol e alegria. Agora estou aqui dentro deste ônibus, com o pensamento voltado para aquele tempo com o rosto molhado de suor e lágrimas, meu peito se ufana de gratidão e alegria. Agora neste momento, compreendo que morar na Cachoeirinha não foi uma mera causalidade. Morar na Cachoeirinha foi uma gloriosa missão que a família foi designada  a cumprir e não sabia: Fui designada pelo presidente da missão para cumprir uma missão por tempo indeterminado  para ajudar os  missionários. Essa designação me trouxe muita alegria, pois seria a oportunidade de realizar o meu sonho de ter uma ala da Igreja na Cachoeirinha. Orei ao Senhor em  busca de inspiração.O primeiro passo foi organizar uma primária do lar e trabalhar com as crianças. Trabalhei desesperadamente com as crianças e seus pais: às Quartas- feiras era um dia de grande alegria muitas crianças bem vestidas e felizes me enchia o coração de alegria e gratidão. Dentro de pouco tempo onze famílhas  foram batizadas . Continuei trabalhando com os missionários à procura de famílias completas para que os homens pudessem receber o sacerdócio.
            O trabalho foi árduo, exigiu muito sacrifício e dedicação, porém foi muito compensador. Finalmente conseguimos o número de pessoas suficiente para abrir o ramo. Infelizmente o Presidente da missão achou por bem que o ramo deveria ser aberto na Casa Verde. Procuramos uma casa, e finalmente encontramos na Rua Atilho Pifer e lá iniciamos com maior intensidade o trabalho missionário, o Presidente do ramo foi o irmão Ávila, e o presidente da Escola Dominical foi meu o Pedro meu marido, Eu fui a presidente  da Sociedade do Socorro e da Primária. O ramo cresceu. Em 1962 fui desobrigada da missão e chamada para ser a presidente da primária do distrito, o ramo continuou a crescer, dividiu, e formou o ramo do Imirim e da Cachoeirinha depois Jardim Peri, Chora Menino, os ramos passaram a ser alas, as capelas foram construídas. A primeira capela da Casa Verde foi demolida e no lugar atualmente ocupa o majestoso prédio do CTM, a maior obra construída fora dos Estados Unidos. Aqueles garotinhos da primária do lar, cresceram na igreja foram chamados para cumprir uma missão, fizeram seus convênios sagrados no Templo do Senhor! Hoje são poderosos líderes na Igreja, e alguns dos pais foram bispo e alguns ainda são. Muitas crianças nasceram sob os convênios sagrados. O Pedro e eu fizemos várias missões.
            Houve muita luta, muito sacrifício, perdas e muitos ganhos.  Hoje vejo Cachoeirinha, Casa Verde, Imirim, jardim Peri, não só banhada pela luz do sol, como pela luz do Evangelho.

 Maria José Pereira Antunes

           
“Quanta saudade preservada
no velho baú de prata
dentro de mim.”
(Gilberto Gil)                                                

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