Conceito Medieval
da Família
Muitas gerações unidas
por uma mesma herança espiritual e material. Não podemos deixar de
citar como exemplo algumas linhas extraídas do livro de família d’Ormesson, conselheiro
de Estado na França no século XVII.
A família
foi à alma viva da ordem cristã medieval. A sua influência continuou e continua
muito depois. Eis como o erudito Mons Delassus nos fala de seu beneficio
influxo nos séculos passados. Que nossos filhos conheçam aqueles dos quais
descendem por parte de pai e mãe, que eles sejam incitados a rezar a Deus pelas
suas almas e a bendizer a memória das pessoas que, com a graça de Deus,
honraram a sua casa e adquiriram os bens de que eles usufruem.
Outro
pai de família escreve em 1807: Encontrará meus filhos, uma seqüência de
ancestrais estimados, considerados, honrados na sua região e por todos os seus
concidadãos. Uma existência honesta, uma fortuna mediana, mas uma reputação sem
mancha, eis o capital que vem sendo transmitido, durante quatrocentos anos, por
onze pais de família que jamais abandonaram o nome que receberam nem a terra em
que nasceram.
Por esta palavra família, portanto, não se entendia somente, como hoje, apenas o pai, a mãe e os filhos, mas toda a linhagem dos ancestrais e a dos descendentes que viriam.
Para ser assim una e contínua através dos séculos, ela tinha não somente a continuidade do sangue, mas também, se assim se pode dizer, um corpo e uma alma perpétuos. O corpo era o bem de família que cada geração recebia dos ancestrais, como depósito sagrado. Ela o conservava religiosamente, esforçava-se para aumentá-lo e o transmitia fielmente às gerações seguintes. A alma eram as tradições, isto é, as idéias dos antepassados e seus sentimentos, bem como os hábitos e costumes que decorriam.
Uma lei
escrita no coração dos franceses, consagrada por um costume multissecular,
assegurava à transmissão do patrimônio de uma geração a outra. E um tríplice
ensinamento: o primeiro, dado pela conduta dos pais que os filhos tinham diante
dos olhos; o segundo, que lhes era ensinado pelas exortações, conselhos e
admoestações que recebiam; e o terceiro, contido nos escritos, chamados livros
de contas ou livros de família, mantidos e atualizados por cada geração. Tudo
isso garantia a transmissão das tradições familiares.
Hoje em dia
os livros de família não existem mais, nem mesmo sob a forma de recordações, a
não ser nos arquivos dos eruditos. E quantos há, entre nós, que podem citar os
nomes de seus bisavós e trisavós que conta até a quarta geração.
A família de outrora não existe mais nos
países europeus. Isso é. explica os parcos resultados obtidos pelos padres e
religiosos que tiveram em mãos, durante meio século, o ensino primário e
secundário de mais da metade da população. Suas lições não mais encontravam
como base para assentar-se, aquele fundamento sólido que as tradições de
família devem inculcar na alma da criança.
Não é só a
família que já não existe mais em vários países, mas não resta mais nada da
constituição social que a História viu originar-se da família em todos os povos
civilizados. Não temos mais família porque a sociedade perdeu de vista o
objetivo da sua própria existência. Como foi dito a família tem dois
sustentáculos: O lar e o livro da família chamado na França o livro de contas
ambos quebrados pelas Leis. A transmissão do Lar do patrimônio que o contém
formava, entre as gerações sucessivas, o vínculo material que a unia, uma a
outra. A esse primeiro vínculo se juntava um ao outro que era a genealogia e os
ensinamentos dos ancestrais e acima de tudo era pautado pelos princípios do
evangelho de Jesus Cristo.
Extraídas
do livro de família de André d'Ormesson, conselheiro de Estado na França no século XVII.
Maria José
Antunes
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